Não importa se é para emagrecer, cuidar da saúde mental, encontrar amigos ou quebrar recordes: é fato que as mulheres descobriram que a corrida é capaz de mudar a vida para melhor. “Toda vez que pensava em não ir treinar, eu repetia:
‘Quanto mais forte eu sou, mais forte eu fico’. Comecei a gabaritar as planilhas e iniciei o pilates. Emagreci. Fiquei loira. Me reinventei profissionalmente. Coloquei como meta correr outra maratona sub-4h. E saiu melhor do que eu esperava: 3h40min01s em junho de 2017, em Porto Alegre. Sabe aquela corrida feliz do primeiro ao último passo? Foi assim. […]
A corrida não resolve os problemas nem cura coração partido. Mas promove um encontro com você mesma, faz ver quanto é forte e capaz, dona do seu destino. Ajuda a deixar a tristeza para trás, abrindo espaço para a autoestima, a confiança, a determinação, a alegria”, escreveu Yara Achoa, jornalista e maratonista, em um relato inspirador sobre como a corrida a ajudou a superar uma separação e a se redescobrir como mulher.
História e empoderamento por meio da corrida
Durante muito tempo, a mulher foi proibida de correr longas distâncias por causa de um velho conhecido: o machismo. Os homens acreditavam que o corpo feminino não tinha força e resistência para participar de uma competição de corrida. Por aqui, até 1975, por exemplo, as mulheres não tinham o direito de participar da São Silvestre, prova mais tradicional do País, realizada desde 1925.
Esse cenário começou a mudar em 1976, quando Eleonora Mendonça, a primeira mulher brasileira a correr uma maratona olímpica, nos Jogos de Los Angeles (1984), veio a São Paulo para correr a São Silvestre (que já aceitava a participação de corredoras) e notou que era a única prova de rua aberta a todos. Hoje, Eleonora é o principal símbolo das mulheres no esporte e foi pioneira na organização das primeiras corridas de rua para todos, oferecendo oportunidade de participação independentemente de filiação, tempo ou performance.
Em 2015, aproximadamente 17 milhões de pessoas participaram de pelo menos um evento de corrida nos Estados Unidos. Desse público, mais de 9,7 milhões eram mulheres, de acordo com pesquisas da Running USA, organização que visa fomentar o crescimento do mercado da corrida de rua nos EUA. No ano seguinte, a Orca Running, uma organizadora de provas, registrou que 70% das pessoas inscritas entre distâncias de 5 km e 21 km eram mulheres.
Por sua vez, o ano de 1990 apresentava uma realidade completamente distinta: apenas 25% dos finalistas em eventos de corrida dos EUA eram do sexo feminino, segundo a Running USA.
Faltam dados oficiais para desvendar o crescimento do pelotão feminino por aqui, mas algumas pesquisas concluem que o mercado da corrida de rua tornou-se um negócio promissor.
O último levantamento mais completo sobre o avanço das corridas no País foi feito em 2009 pela Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo (FIA/USP), a pedido da Corpore, entidade sem fins lucrativos e organizadora de corridas de rua. À época, o Brasil contava com cerca de 4 milhões de corredores.
De acordo com outro estudo da Pluri Consultoria, especializada em analisar o mundo da corrida, o setor cresceu 7,1% ao ano entre 2007 e 2011 — ou seja, 1,6% do nosso Produto Interno Bruto (PIB).
Segundo o último levantamento, em 2015, feito pela Federação Paulista de Atletismo, a participação feminina quadruplicou em oito anos. Em 2007, 69 mil mulheres dividiram espaço com os homens em corridas de rua no Estado de São Paulo. Seis anos depois, subiu para 33%, somando 186,8 mil mulheres concluintes. Em 2015, as mulheres chegaram a 38% — 274 mil corredoras, número quase quatro vezes maior do que em 2007.
Norte Marketing Esportivo: responsável por grandes provas como o Circuito das Estações e a Night Run, a empresa promoveu mais de 115 eventos de corrida em todo o País só em 2017. Analisando em 2015 as distâncias de 5 km, 10 km, 16 km e 21 km, 40,95% do público era feminino; em 2016, houve um tímido aumento da participação feminina para 42,69%; por fim, em 2017, outro progresso: 44% de mulheres.
Maratona Cidade do Rio de Janeiro e Meia Maratona do Rio: em 2017, as mulheres foram maioria entre os corredores no montante das três provas do evento — 42 km, 21 km e 6 km — totalizando 50,6% dos 29 mil inscritos. Nos 21 km, elas corresponderam a 53% do público; na distância menor, foram 70%. Os homens só tiveram domínio na maratona, que contou com 8,5 mil participantes (70% dos inscritos homens contra 30% de mulheres). Foi a primeira vez que os homens foram minoria em uma das principais provas de rua no Brasil.
Run like a girl
Elas são bem-vindas em qualquer crew de corrida, mas alguns grupos segmentaram a participação com foco nas mulheres: Elas que Voam, Divas que Correm e Women With Wings são alguns deles. A seguir, um pouco da história de cada crew:
Divas que Correm
Se estamos falando em pioneirismo, sem dúvida, o Divas que Correm foi o primeiro que olhou para elas de forma diferente. Idealizado em 2013 pela jornalista Giselli Souza, hoje é o maior grupo de corrida feminino do Brasil e se espalhou em mais de 17 lugares do País. O Divas também se consolidou como o primeiro clube de corrida feminino da web no Brasil, ao incentivar mulheres de todo o País a cuidarem de si mesmas com a ajuda da corrida de rua. A ideia do projeto não é ser uma assessoria esportiva, mas um grupo que trabalha em parceria com profissionais da assessoria Run&Fun. Há treinos presenciais em São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, mas as meninas do Divas estão por todo o País e podem se conectar via site ou aplicativo, o SöuRun. Veja como participar: divasquecorrem.com
Elas que Voam
Veronica Grether, Alice Fonseca, Esther Paranha, Marcella Cassemiro e Liana Tortato montaram o grupo para ser um ponto de encontro de mulheres, no qual todas se sintam bem para correr. Os treinos acontecem aos sábados e às segundas, em São Paulo. As amigas fazem parte de um projeto de corrida da Adidas — o Adidas Runners —, em que várias tribos se reúnem em dias e horários diferentes ao longo da semana. Para participar, basta se inscrever pelo site: adidas.com.br/adidasrunners.
Women With Wings
Também de São Paulo, o grupo foi criado pela educadora física Ana Luiza Castro. Ela ensina as mulheres a correrem e oferece um atendimento personalizado. Os treinos acontecem aos sábados, em Cotia (SP), com planilhas exclusivas para cada corredora. O custo é de R$ 66 por mês. Para participar, envie um e-mail para: corrida.www@gmail.com.
Núcleo Aventura/Projeto Mulher
Criado por Cristina Carvalho, ícone do triathlon, da corrida de aventura e da corrida de montanha, fundou duas assessorias, uma focada em trail run e a outra, em mulheres. Para saber mais: contato@projetomulher.com.br. projetomulher.squarespace.com