Cada vez mais ouve-se falar de crews de corrida. O movimento nasceu no exterior, em cidades como Londres e Nova York, e começa a ganhar força no Brasil depois de se espalhar por capitais como Berlim, Seul e Paris. As crews são formadas por corredores amadores que buscam uma abordagem diferente do esporte. Esqueça pace, meias de compressão, frequencímetros, planilhas de treinamento. Nada disso é item obrigatório para o treino.
Porque nas crews, a corrida é apenas uma das experiências vividas durante o “corre”. Exploração urbana, confraternização, troca de experiência sobre o esporte e até dança. Tudo isso acontece quando estes grupos, que costumam rejeitar locais e horários de treino convencionais, calçam os tênis.
É uma corrida despretensiosa, mas não deixa de ser corrida. E esse ambiente sem foco na performance pode ser mais democrático e receptivo a diversas categorias de atletas amadores, cada um com sua própria barreira individual a quebrar.
“Basicamente esses grupos têm uma corrida mais rebelde. Todos fazem por diversão, mas o esporte está inserido ali. De um ponto a outro, acabam correndo entre 5 km e 10 km e incentivam muita gente que nunca pensou em correr a completar 5 km pela primeira vez”, explica Rosana Fortes, gerente de corrida da Nike do Brasil.
Em alguns casos, o esporte é também a plataforma para manifestações mais profundas, como a ocupação urbana. A Bridge Runners de Nova York, por exemplo, tem como lema “Essa cidade é nossa academia”. Não à toa, o movimento nasceu e se espalhou em grandes metrópoles.
No Brasil, essa vertente também está presente. Como no caso da Ghetto Run Crew, do Rio de Janeiro. Para levantar a bandeira do direito à prática de esportes em qualquer área da cidade, o grupo chega a começar seu corre à 0h no Engenho de Dentro, bairro da Zona Norte.
São mais de 50 crews de corrida no Brasil organizando corres semanais, especialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Algumas com a proposta da diversão como mote principal. Outras com mensagens sociais enraizadas na forma de correr – a Nike apoia alguns desses grupos como forma de levar a marca a um lado pouco explorado do esporte.
Diferentemente de assessorias esportivas, para “fazer o corre” com uma crew não é preciso pagar mensalidade ou inscrever-se com antecedência. Pelo contrário. Na maioria delas, é só aparecer no ponto de encontro, disposto a seguir o espírito coletivo proposto pelo grupo, que dificilmente anuncia qual será o percurso do dia.
Algumas crews não divulgam abertamente a programação de suas atividades. Mas nem por isso deixam de levar cada vez mais gente a seus corres. Quem já faz parte do grupo leva amigos, que gostam da proposta e levam outros amigos, que levam mais amigos…
O senso de pertencimento a um grupo é um dos propulsores do crescimento das crews, além das possibilidades que isso gera. Competição está fora de cogitação e praticamente desaparece o risco de frustração por não melhorar o pace, já que o ritmo destes grupos costuma variar ao longo das atividades, até para que todos sintam-se confortáveis durante a corrida.
“É uma maneira de correr sem causa, sem motivo, e para contestar um pouco o jeito que a corrida é hoje. Em uma prova, todo mundo está equipado, com relógios e gadgets. É exatamente o oposto disso: corrida é o esporte mais democrático do mundo e você não precisa pagar uma mensalidade ou competir em provas para ser um corredor. Ter um bom calçado é importante, mas não existe essa pretensão de ter o melhor equipamento. É um pouco revolucionário”, analisa a gerente de corrida da divisão nacional da Nike.