Nessas linhas, neste espaço, pretendo imprimir um tom mais pessoal que científico, pois acredito que já se tenha falado quase tudo sobre corrida e você, caro leitor, já deve estar bastante informado sobre aspectos fisiológicos e biomecânicos do treinamento. Eu o convido a conversar sobre ideias.
Gosto de pensar sempre nas premissas. Elas determinam se o todo faz ou não sentido e podem se resumir na frase “pra quê?” A pergunta que faço nesse meu primeiro artigo é: “pra que correr?”. As respostas estão na ponta da língua de qualquer pessoa bem informada: ganhos de saúde, emagrecimento, aumento de capacidades físicas, etc. Vamos então elaborar um pouco mais. Pra que correr 10km? Uma Maratona? Uma Ultra Maratona?
Como se pode notar as respostas começam a ficar mais complexas e menos óbvias, surgindo mais questionamentos do que certezas. Há ganhos de saúde em se completar ou treinar para uma Ultra Maratona? Correr uma Maratona realmente emagrece? Quais as vantagens, se é que existem, em correr 21km ao invés de 10km?
Não vou responder a essas perguntas. Sou treinador. Formado e Pós-Graduado com muitos anos de carreira, tenho uma opinião particular sobre esse assunto. Quero que você, leitor, reflita e chegue as suas próprias conclusões. Uma boa pista é a premissa (olha ela aí de novo) que diz que não há exercícios ou atividades proibidas. O que pode haver são pessoas “proibidas” de realizar determinadas atividades ou exercícios. Um exemplo clássico seria um treinador recriminar um integrante do Cirque du Soleil dizendo que determinada postura “faz mal pra coluna”. Ou sugerir que um atleta Olímpico diminua seu volume de treinamento por que “pode machucar”. Artistas de circo e atletas de alto rendimento são seres diferenciados. Estão aptos a executar praticamente qualquer exercício por fatores genéticos e de compleição física. E estão acima de tudo conscientes do risco de uma lesão eminente. As demais pessoas são meros mortais. Isso não quer dizer que pessoas normais não possam realizar coisas extraordinárias. Aí entra outro componente: o da superação.
Essa palavrinha mágica é o motor do progresso e da constante elevação dos limites humanos. Se superar. Superar os adversários. Superar os obstáculos. A ordem destes fatores altera drasticamente o produto. Aí voltamos para a primeira pergunta. Eu corro para:
- Superar a mim mesmo;
- Superar meus adversários (amigos);
- Superar obstáculos sejam eles reais, imaginários, de saúde ou limitações;
- Ou todas as anteriores.
A resposta é pessoal e intransferível. Analise suas necessidades, sua vontade, sua motivação. Esteja ciente dos riscos envolvidos e vá em frente. Corra. Mas sobretudo, reflita. O axioma “correr faz bem” deve se adaptar ao seu objetivo. Faz bem para o SEU corpo? Faz bem para a SUA mente? Ou faz bem para a SUA alma?