Fonte: Medscape , por Miriam E. Tucker
: NOTIFICAÇÃO 2 de fevereiro de 2018
O tratamento do diabetes tipo 2 é muito agressivo em uma proporção substancial de idosos, o que provavelmente gera consequências nocivas, sugere uma nova análise.
Os dados são de uma coorte holandesa e foram publicados on-line em 24 de janeiro no Diabetes, Obesity and Metabolism pela Dra. Huberta E. Hart, do Julius Center for Health Sciences and Primary Care, na Universitair Medisch Centrum Utrecht(Países Baixos), e equipe.
Os benefícios do controle glicêmico rigoroso não foram comprovados para idosos com diabetes tipo 2 de longa data com complicações vasculares. Além disso, para muitas pessoas com expectativa de vida mais curta, qualquer benefício poderia ser superado pelo risco de hipoglicemia.
Por isso, as diretrizes de várias sociedades profissionais aconselham metas glicêmicas menos rigorosas para adultos com idade avançada.
No entanto, o novo estudo mostrou que cerca de 20% dos 319 adultos com diabetes tipo 2 com 70 anos ou mais, receberam tratamento excessivo em cinco clínicas de atendimento primário, com base nas diretrizes holandesas de metas individualizadas para a hemoglobina glicada (HbA1c).
Isso apesar do fato de muitos apresentarem complicações, comorbidades, e estarem tomando medicamentos com potencial de causar hipoglicemia. Além disso, os tratamentos não diminuíram em intensidade, nem mesmo após relatos de hipoglicemia ou quedas.
"Embora o número de pacientes deste estudo tenha sido pequeno, os resultados demonstram com clareza que o tratamento excessivo em pacientes idosos com diabetes tipo 2 é um problema real", afirmaram Dra. Huberta e equipe.
O tratamento dos pacientes neste estudo teria sido considerado excessivo de acordo com as diretrizes da American Diabetes Association e da European Association for the Study of Diabetes, pontuaram os pesquisadores.
"Os profissionais de saúde devem abandonar a ideia de 'padronização' e perceber os possíveis benefícios de refrear o tratamento hipoglicemiante", destacaram os autores.
Para evitar o tratamento excessivo, os pesquisadores recomendam que as diretrizes incluam um limite inferior de HbA1c e que os indicadores de qualidade do diabetes "não sejam embasados nos valores médios da população", porque essas médias ignoram totalmente os tratamentos insuficiente ou excessivo.
Muito comum, tratamento excessivo costuma ser prejudicial
No estudo, a Dra. Huberta e equipe avaliaram o nível de tratamento personalizado do diabetes para idosos na atenção primária. Os pesquisadores observaram que, na Holanda, 85% das pessoas com diabetes tipo 2 são tratadas por clínicos gerais.
Com base nas diretrizes do Nederlands Huisartsen Genootschap de 2013, os pesquisadores usaram os seguintes parâmetros em pessoas com 70 anos ou mais: HbA1c ≤ 7% (53 mmol/mol) para os pacientes que recebiam apenas aconselhamento sobre estilo de vida ou metformina em monoterapia; HbA1c ≤ 7,5% (58 mmol/mol) para os pacientes que usavam outros hipoglicemiantes além da metformina, com história de diabetes < 10 anos; e HbA1c ≤ 8,0% (64 mmol/mol) para os pacientes com história de diabetes ≥ 10 anos.
Os pesquisadores analisaram os prontuários eletrônicos da atenção primária de 1.002 pacientes com diabetes tipo 2, e 319 pacientes tinham 70 anos ou mais.
"Tratamento correto", "tratamento excessivo" e "tratamento insuficiente" foram definidos conforme os valores alcançados estivessem corretos, acima ou abaixo das metas recomendadas.
Os pesquisadores calcularam que dos 319 pacientes com 70 anos ou mais, 165 pacientes – cerca de um em cada dois – deveriam ter como meta a HbA1c > 7%, de acordo com as diretrizes.
No geral, 64 pacientes receberam tratamento excessivo; isto é, cerca de 40% dos 165 pacientes, que representam 20% de todos os participantes de 70 anos ou mais.
Muitas pessoas que receberam tratamento excessivo tinham complicações microvasculares e macrovasculares, comorbidades e faziam polifarmácia; podiam ser consideradas frágeis e tomavam medicamentos que podem causar hipoglicemia.
De fato, 20,3% desses pacientes tiveram hipoglicemia, e quase 30% referiram acidentes envolvendo quedas.
Ainda assim, no caso de pacientes bem informados preferirem continuar o controle glicêmico intensivo, "fazê-lo poderia ser uma decisão compartilhada. Do ponto de vista médico, poderia ser considerado que este paciente estaria recebendo um tratamento excessivo, no entanto, no que tange o tratamento personalizado do diabetes, isto é aceitável", afirmaram Dr. Huberta e equipe.
Todavia, em geral, "em pacientes idosos com diabetes de longa data submetidos a esquemas terapêuticos complexos, a relação risco-benefício do controle glicêmico rigoroso é questionável", afirmou a Dra. Huberta.
"Médicos, sigam as diretrizes e ousem diminuir a intensidade dos hipoglicemiantes em uma decisão compartilhada com o paciente idoso diabético", sugeriu a pesquisadora.
Os autores declararam não possuir conflitos de interesses relevantes.
Diabetes Obes Metab. Publicado on-line em 24 de janeiro de 2018 Resumo