Exercitar-se enquanto se desloca é um caminho para ser mais ativo
Vento no rosto, liberdade de horários e uma solução para a tal falta de tempo à qual muita gente recorre para escapar da academia. A mobilidade urbana ativa, em que os deslocamentos pela cidade são feitos à pé ou por bicicleta, principalmente, tem ganhado mais adeptos, mesmo com uma infraestrutura precária, que ainda coloca em risco a população sob duas rodas. A bicicleta, no atual cenário das grandes cidades, é essencial para a implantação do conceito de mobilidade urbana sustentável como forma de inclusão social, de redução de agentes poluentes e de melhoria da saúde da população. Deslocar-se ao mesmo tempo em que se exercita tem comprovados ganhos do ponto de vista da saúde pública.
Caminhar ou pedalar no trajeto para o trabalho, por exemplo, mesmo que de forma fracionada, melhora a pressão arterial e os índices de colesterol e glicose, além de colaborar para a perda de peso. A inatividade física é a quarta causa de mortalidade do planeta, pois está diretamente relacionada a doenças cardíacas crônicas, como derrame, diabetes e câncer. A cada ano, essas patologias resultam em mais de três milhões de mortes que poderiam ser evitadas, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). As estimativas mundiais mais recentes indicam que 60% da população está exposta a riscos de saúde por não manter uma atividade física adequada.
Hoje, o nível recomendado é de, pelo menos, 150 minutos semanais de exercício físico de intensidade moderada ou de, pelo menos, 75 minutos semanais de exercício físico de intensidade vigorosa. Segundo o cardiologista e médico do esporte Marconi Gomes, grande parte dos deslocamentos diários nas maiores cidades é de cinco a sete quilômetros, distância facilmente alcançada por bicicleta, se existisse melhor infraestrutura urbana. A atual não é impeditiva, mas poderia ser melhor, já que temos relevo mais acidentado, muitos carros e poucas ciclovias. Mas o especialista alerta para a importância de se exercitar no mínimo duas vezes por semana. “Exercício físico é remédio, tem dosagem mínima, ótima e em excesso, mas nunca pode ser tomado em dose única. Um dia por semana não ajuda muito e pode ser perigoso. Por isso a mobilidade urbana ativa é tão atraente: é diária, repetitiva e regular”.
Há três anos, a assessora de ação educativa Bianca Spósito Barreto, de 36 anos, percebeu uma falta de sentido em recorrer ao ônibus ou ao carro para percorrer distâncias curtas. Adotou a bicicleta como meio de transporte e ganhou em saúde, qualidade de vida e tempo. “Antes, ficava presa no trânsito, nervosa com a cidade toda parada. Hoje não gasto com transporte – apesar de a bicicleta exigir manutenção, faço exercício e tenho mais liberdade de locomoção, pois não dependo do tempo definido pelo sistema público de transporte”, defende. Ela, inclusive, adotou uma bicicleta sem marchas para o percurso de casa para o trabalho, para se exercitar ainda mais.
Tendo em vista a importância do incentivo à mobilidade mais sustentável e os crescentes problemas que o sedentarismo vem causando na saúde pública, a campanha Mobilidade urbana ativa: meu motor é o coração, da Sociedade Mineira de Medicina do Exercício do Esporte (Smexe), incentiva um modelo de cidade saudável em que as pessoas podem manter-se fisicamente ativas ao mesmo tempo em que se deslocam para o trabalho ou escola. Para isso, é preciso mudar a cultura do belo-horizontino, que recorre à falta de ciclofaixas e à imagem do relevo acidentado para justificar a não adesão às bikes. Segundo Marconi, não criamos a cultura do deslocamento com bicicletas, possivelmente, porque no início da sua existência elas eram pesadas e não tinham marchas, além do apelo para se ter um automóvel. Que tal dar uma nova chance às magrelas?
INTENSIDADE DO EXERCÍCIO
Leve - é possível manter uma conversa
Moderado - a fala fica entrecortada pela respiração
Vigoroso - a fala fica ofegante
Fonte:
Carolina Cotta - Estado de Minas
Publicação:11/01/2015