Em estudo com ratos, substância, que hoje é usada como anestésico, se mostra capaz de aliviar sintomas da depressão em poucas horas e de forma duradoura. Os resultados podem levar, futuramente, a uma classe mais eficiente e segura de medicamentos para o transtorno de humor.
Dos quebra-cabeças farmacêuticos, um que tem merecido especial atenção de médicos e cientistas é a ação da cetamina. A substância, usada como anestésico, demonstra também grande poder de amenizar rapidamente, em questão de horas, os sintomas da depressão. Essa última característica representaria uma imensa vantagem em relação aos antidepressivos convencionais, cujos benefícios só passam a ser sentidos após cerca de oito semanas, mas a cetamina gera um outro resultado: efeitos colaterais perigosos, especialmente para depressivos, como alucinações e dissociação (percepção de estar fora do próprio corpo).
Um artigo publicado na edição desta semana da revista Nature aponta um caminho para superar essa limitação. Nele, pesquisadores da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, mostram que, em testes com ratos, um composto presente na cetamina, depois de isolado, manteve o potencial para reverter quadros depressivos em ratos sem provocar efeitos adversos. “Pelo que sei, este é o primeiro trabalho a verificar o potencial terapêutico de um composto da cetamina no comportamento depressivo. O avanço permitirá que pacientes com depressão obtenham benefícios rápidos e sustentados, mas sem efeitos colaterais”, prevê o autor-sênior do estudo, Todd Gould.
Professor e coordenador do curso de farmácia da Universidade Feevale (RS), Rafael Linden avalia que os resultados são particularmente interessantes por demonstrarem que os efeitos antidepressivos da cetamina se devem à ação desse composto, o metabólito (2R,6R)-hidroxinorcetamina (HNK). “O estudo pode abrir caminho para o desenvolvimento de novos fármacos antidepressivos, com estruturas químicas semelhantes a (2R,6R)-HNK, e que compartilhem com essa substância uma característica única: o rápido início de ação”, analisa Linden, que não participou da pesquisa. “Cabe destacar que a maioria dos antidepressivos clássicos requer algumas semanas para apresentar efeitos clínicos, o que pode ser um perigo elevado para pacientes com depressão severa, particularmente com risco para suicídio”, completa.
Fonte: Ciência e Saúde do Correio Braziliense
postado em 05/05/2016 06:54
por Isabela de Oliveira