Muitos ainda não veem a doença como grave, principalmente gestores e profissionais de saúde
Estamos assistindo a um avanço perigoso do Diabetes Tipo 2 no mundo. Hoje, 1 entre 11 adultos sofre da doença. No Brasil, o impacto das doenças crônicas não transmissíveis, entre elas o Diabetes (considerando morbimortalidade, absenteísmo, auxílios-doenças e aposentadorias precoces), representou 5,4% do PIB de 2015, ou seja, US$ 129,8 bilhões, e as projeções indicam que esse impacto chegará a 5,8% do PIB em 2030, ou seja, US$ 184 bilhões.
No início de abril foi aprovado o Projeto de Lei do Senado (PLS) 225/2017, agora em tramitação na Câmara dos Deputados, que visa tornar obrigatórios o acesso e o atendimento integral multidisciplinar aos portadores de Diabetes no Sistema Único de Saúde (SUS), estabelecendo diretrizes para ações e serviços de atenção ao paciente.
O PLS significa um grande avanço no combate à incidência do Diabetes na população brasileira, pois estipula a criação de políticas de educação permanente para os profissionais envolvidos no atendimento, criação de centros especializados em Diabetes, além da realização de pesquisas nacionais, serviços de prevenção e de diagnóstico precoces e amplo acesso a medicamentos.
Hoje, uma em cada seis pessoas morre no mundo devido ao Diabetes. Mais de 90% dos casos são de Diabetes Tipo 2, e grande parte das complicações — graves, incapacitantes e de altíssimo custo — poderia ser prevenida, com diagnóstico precoce, melhores tratamentos e acessos. Quase metade da população que tem a doença não sabe de sua condição e caminha para complicações antes do diagnóstico.
Especialistas internacionais também estão atentos à gravidade dessa situação e se mobilizando para deter o avanço da doença globalmente. Dados do mais recente relatório sobre Doenças Crônicas Não Transmissíveis da OMS mostram que os governos devem intensificar seus esforços para controlar as DCNTs, entre elas o Diabetes. O que também foi recomendação da ONU em sua resolução de 2011.
Os países devem cumprir com os objetivos acordados globalmente na implementação de medidas para a redução de dietas não saudáveis e a conscientização da importância de atividades físicas, além do comprometimento no fortalecimento dos sistemas de saúde por meio de uma cobertura de saúde abrangente.
O Brasil está entre os seis países com o maior número de casos de Diabetes no mundo (Atlas IDF). A doença afeta mais de 12,4 milhões de brasileiros, de acordo com dados da Federação Internacional do Diabetes (IDF). Quando mal controlado, pode aumentar os riscos de doenças cardiovasculares. Cerca de 80% dos casos de AVC’s, 50% dos infartos do miocárdio e 60% de tromboses são de portadores de Diabetes, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia. Assim como 50% dos casos de hemodiálises têm a doença como fator principal, que também é a principal causa de amputações, cegueiras e complicações que, em conjunto, levam à morte prematura.
Mas, mesmo assim, muitos ainda não veem o Diabetes como uma doença grave, principalmente gestores e profissionais de saúde. Reduzir a obesidade e o Diabetes, aumentar o diagnóstico da doença, assim como o controle precoce, são medidas que surtirão efeito na diminuição da incidência da doença.
Para tanto, precisamos estabelecer um esforço conjunto (sociedade, associações médicas, indústria da saúde e governo) para promover, com a máxima urgência, a conscientização tanto da população quanto do poder público e a melhora do atendimento médico.
Sem essa união entre entidades públicas, privadas e governamentais, não conseguiremos promover uma campanha nacional para a mudança no estilo de vida dos brasileiros. É importante também o envolvimento da sociedade para garantir a devida atenção dos nossos governantes ao tema. Em ano de eleição no Brasil, é importante não deter os avanços que um projeto de lei pode representar para a saúde pública brasileira.
Fadlo Fraige Filho
Médico endocrinologista, professor titular de Endocrinologia da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC) e presidente da Associação Nacional de Atenção ao Diabetes (Anad).
Fonte: Folha de São Paulo.