Muitos acreditam que essa polêmica em torno do termo “diabético” não passa de uma questão desimportante, de ordem pessoal. A discussão não é nova.1 Além de debates a respeito, pesquisas já foram feitas e entidades internacionais têm divulgado seu posicionamento. Vejamos, então, qual a importância do assunto em pauta.
Recentemente, o repórter da área de saúde e bem-estar do U.S.News, Amir Khan, publicou artigo a esse respeito.2 No subtítulo ele já dá o alerta, “tire a palavra com D do seu vocabulário quando se referir a alguém com diabetes”. No artigo, discute-se também o fato de existir um estigma de culpa relacionado ao diabetes, que é reforçado ao se usar o termo “diabético”. A educadora em diabetes Evan Sisson afirma: “referir-se a alguém como ‘diabético’ implica que ele não é nada mais do que a disfunção, é como se o diabetes o definisse como pessoa”. 2 Ela alerta, também, que, ao usar o termo com uma criança, se está passando a ideia de que ela é diferente dos demais, o que fere sua autoestima.
O Prof. Dr. Micheal Bergman concorda que o uso das alternativas, como: “pessoa com diabetes” ou “ele/ela/você tem diabetes”, mantém a pessoa, e não a doença, em primeiro lugar.2 Assim, ao perguntar sobre a disfunção, propomos que se use “você tem diabetes?”, no lugar de perguntar se a pessoa é “diabética”.
O Dr. Bergman revela que quando fala com seus pacientes, nunca os trata por “diabéticos”, o que “torna muito mais fácil estabelecer uma relação que nos coloca no mesmo patamar”, diz. 2 Da mesma forma, pessoas com outras disfunções não gostam ou não gostariam de ser abordadas com o uso de adjetivos ou substantivos como: “asmático”, “canceroso”, “epilético” ou “aidético”.3,4
Apesar de “nem todos ligarem”, 40,7% admitem que se incomodam quando chamados de “diabéticos”.5 Adicionalmente, 25% das pessoas com diabetes tipo 1 no Brasil escondem a disfunção e 54,1% considerarem o diabetes a pior coisa que aconteceu em suas vidas.5 Portanto, deve-se entender que a maioria prefere ser referida e reconhecida por outras de suas características.
Levando tudo isso em consideração, as maiores entidades internacionais dedicadas ao diabetes, incluindo a American Diabetes Association (ADJ) e a International Diabetes Federation (IDF), não admitem o uso em suas revistas científicas (Diabetes Care, Diabetes, Diabetes Research and Clinical Practice, entre outras) do substantivo “diabético” para se referir às pessoas com diabetes.6
Assim, cabe a nós uma adequação de vocabulário que, além de permitir alinhamento com entidades internacionais, deixará o paciente mais à vontade, sentindo-se respeitado, e quem sabe até, em uma relação mais próxima com sua equipe de saúde, motivado a se dedicar mais ao tratamento.
Referências
1. Barone, Mark. Diabético, uma palavra a ser eliminada! Disponível em: tenhodiabetestipo1eagora.bl... Acesso em: Fev. 2015.
2. Kahn, Amir. Why “diabetic” is a dirty word? U.S.News. Disponível em: health.usnews.com/health-ne... Acesso em: Fev. 2015.
3. Labate, Claudia. Ninguém é a diabetes. Disponível em: facebook.com/TenhoDiabetesT... Acesso em: Fev. 2015
4. Grupo de Incentivo à Vida, Rede Nacional de Direitos Humanos em HIV e Aids (RNDH). Não para a palavra “aidético”. nº 4, maio de 1997. Disponível em: giv.org.br/ativismo/artigo0... Acesso em: Fev. 2015.
5. Publicado na Revista Diabetes, da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), em julho de 2012.
Barone, Mark. Diabetes: conheça mais e viva melhor. São Paulo: All Print Editora, 2014.
Fonte: Portal da SBD
Informações do Autor
Dr. Mark Barone
Doutor em Fisiologia Humana (ICB/USP)
Especialista em Educação em Diabetes (ADJ-IDF-SBD, UNIP e IDC)
Autor dos livros “Tenho diabetes tipo 1, e agora?” e “Diabetes: conheça mais e viva melhor”
e do blog tenhodiabetestipo1eagora.bl...