SAN DIEGO - Estudo recente apresentado no ADA mostrou que mais da metade dos pacientes jovens com diabetes tipo 2 disseram que apresentam distúrbios alimentares, como binge (compulsões) e vômitos.
E, entre os jovens com diabetes tipo 1, mais de 20% relataram esses comportamentos.
Dra. Angel Siu Ying Nip
Aqueles que admitiam ter um transtorno alimentar também eram mais propensos a sentir sintomas depressivos e tinham pior qualidade de vida, disse o autor principal do estudo, Angel Siu Ying Nip, MD, um colega em endocrinologia pediátrica na Universidade de Washington, em Seattle, durante uma conferência de imprensa na Associação Americana de Diabetes (ADA) 2017.
Ela recomenda o rastreio (investigação) regular de transtornos alimentares entre pacientes jovens com diabetes, sendo que a intervenção deveria ser o mais precoce possível, quando surgem problemas.
Os achados refletem provavelmente o resultado obtido pelo intenso foco na dieta e no peso exigido pelo controle do diabetes, disse a Dra. Nip.
De fato, a natureza "centrada na alimentação" necessária ao controle do diabetes pode "ser sobre questões relacionadas ao controle de consumo de alimentos e insulina", disse Alicia McAuliffe Fogarty, PhD, vice-presidente da equipe de gerenciamento de estilo de vida da American Diabetes Association, que moderou a Conferência, mas não esteve envolvida nesta pesquisa.
Dra. Alicia McAuliffe Fogarty
Dada a associação entre alimentação desordenada e depressão, a identificação precoce é fundamental para que os pacientes possam receber apoio psicossocial, afirmou a Dra. McAuliffe Fogarty.
"Se você pode fornecer-lhes apoio e educação para controlar o diabetes de forma mais eficaz, você pode evitar que alguém desenvolva problemas psicológicos significativos".
Mais da metade dos jovens com diabetes tipo 2 têm transtornos alimentares.
Para o estudo, o Dra. Nip e os co-autores examinaram a prevalência de distúrbios alimentares em jovens e adultos jovens com diabetes e identificaram algumas das características associadas. Eles usaram dados da SEARCH for Diabetes in Youth, um estudo de vigilância de corte em curso iniciado em 2002, que avalia a prevalência de diabetes na população pediátrica em cinco estados: Carolina do Sul, Ohio, Colorado, Washington e Califórnia. É considerado o estudo mais abrangente de seu tipo até a data nos Estados Unidos.
Os pacientes tinham 10 anos de idade ou mais, participaram de visitas de coorte entre 2011 e 2015 e completaram a ferramenta de triagem revisada (DEPS-R) do Diabetes Eating Problem Survey (DEPS-R). Resultados de 20 ou mais, considerados evidências de comportamentos alimentares desordenados, foram observados em 21,2% dos pacientes com diabetes tipo 1 e 52,5% dos pacientes com diabetes tipo 2.
Os pacientes com diabetes tipo 1 tinham uma idade média de 17,9 anos. Em comparação com aqueles com escores de DEPS-R inferiores a 20, os participantes com valores de DEPS-R de 20 ou mais eram mais propensos a ser do sexo feminino; terem um maior índice de massa corporal (IMC), menor sensibilidade à insulina e maiores níveis de HbA1c, além de terem tido cetoacidose diabética nos últimos 6 meses. Eles também obtiveram pontuações mais altas na Escala de Depressão do Centro de Estudos Epidemiológicos (CES-D) e menores nas medidas de qualidade de vida pediátrica (P <.0001 para todas as comparações).
A idade média dos pacientes com diabetes tipo 2 foi de 21,9 anos. Para eles, os valores de DEPS-R de 20 ou mais foram associados com maior IMC (P = .0004), menor sensibilidade à insulina (P <.0001) e maior HbA1c (P = 0,0177). Tal como acontece com os pacientes com diabetes tipo 1, eles também obtiveram pontuação maior no teste de depressão e menor na classificação de qualidade de vida pediátrica (P <.0001 para ambos).
Problema comum e subestimado: comece a rastrear cedo
Essas descobertas sugerem que os transtornos alimentares entre pacientes com diabetes mais jovens é "um problema comum, ainda que pouco reconhecido e subdeterminado, afirmou a Dra. Nip.
"Recomendamos a investigação (screening) de transtornos alimentares a partir do início da adolescência", reiterou. "E a ênfase no controle dos alimentos e do peso corporal pode ser um fator de risco", ela observou.
"A maneira como explicamos isso às crianças e aos pais agora, com foco e maior preocupação com escolhas alimentares e limitando o que eles comem, poderia realmente fazer os pacientes propensos a desenvolver alguns comportamentos alimentares inapropriados para perder peso."
American Diabetes Association 2017 Scientific Sessions. June 10, 2017; San Diego, California. Abstract 802-P
Fonte: Portal da SBD
Autor(a): Claudia Pieper
Professora Assistente e Coordenadora do Curso de PG em Endocrinologia PUC-IEDE-RJ
Coordenadora do Departamento de Diabetes e Transtornos Alimentares da SBD