Fonte: NEWS.MED.BR, 2015
Segue um pequeno resumo dos três artigos publicados pelo The Lancet Diabetes & Endocrinology.
A depressão é, pelo menos, duas vezes mais comum em pessoas com diabetes do que na população em geral, mas isto é frequentemente sub diagnosticado e subtratado. Como a depressão crônica pode reduzir a adesão ao tratamento e piorar o controle glicêmico, há uma necessidade urgente de melhorar o diagnóstico clínico e o tratamento para minimizar o risco de complicações do diabetes no longo prazo e melhorar a qualidade de vida.
Concepções sobre depressão e angústia diabética: momento de avaliação
A depressão está presente em cerca de 20% das pessoas com diabetes em todo o mundo, afetando negativamente a qualidade de vida e o tratamento. As causas da depressão em diabéticos estão mal compreendidas, mas pesquisas sugerem uma associação bidirecional, pelo menos para a diabetes tipo 2. Achados inconsistentes a respeito da prevalência e do tratamento da depressão e os resultados para os pacientes com diabetes parecem em parte atribuíveis às incoerências na definição da depressão e em distingui-la da angústia diabética, um conceito psicológico relacionado à depressão.
Foram revisadas evidências sugerindo que a angústia diabética e a depressão são concepções correlacionadas e sobrepostas, mas não intercambiáveis. De forma importante, a angústia diabética parece mediar a associação entre depressão e controle glicêmico. Os estudiosos propuseram um modelo para explicar os efeitos diretos e indiretos da depressão e da angústia diabética no controle da glicemia. Além disso, sugeriram três perfis de sintomas distintos para definir a depressão em pacientes com diabetes que podem ajudar nas intervenções a serem tomadas com esses pacientes.
Pesquisas futuras devem se concentrar em outros perfis de refinamento do estudo da depressão em pacientes com diabetes, levando em conta a história natural das doenças, as características clínicas e a angústia diabética. A avaliação da angústia diabética e da depressão na investigação e na prática clínica será essencial para identificar pacientes de alto risco e com diferentes necessidades em relação à saúde mental.
A ligação entre depressão e diabetes: em busca de mecanismos compartilhados
Crescem as evidências de que a depressão e o diabetes tipo 2 têm origens biológicas em comum, particularmente uma maior ativação da imunidade inata que conduz a uma resposta inflamatória mediada por citocina e, potencialmente, através da desregulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. Ao longo da vida, estas vias podem conduzir à resistência à insulina, doença cardiovascular, depressão, aumento do risco de diabetes tipo 2 e aumento da mortalidade. Citocinas pró-inflamatórias podem afetar diretamente o cérebro, causando sintomas depressivos. Na diabetes tipo 1, os mediadores de depressão não são bem estudados, com a investigação sendo dificultada por definições inconsistentes e escassez de pesquisas. As evidências sugerem que as relações familiares e o peso de uma doença com início precoce ao longo da vida no desenvolvimento da personalidade podem contribuir para o aumento da vulnerabilidade à depressão.
No geral, pesquisas longitudinais são necessárias para identificar fatores de risco e mecanismos da depressão em pacientes com diabetes, particularmente com início em fase precoce da vida. Em última análise, uma melhor compreensão das origens comuns dessas duas patologias poderia proporcionar tratamentos potenciais e melhorar o tratamento de ambas as doenças. Estas origens comuns são alvos para a prevenção primária do
diabetes tipo 2.
Depressão e diabetes: tratamento e cuidados com a saúde
Apesar dos esforços de investigação nos últimos 20 anos, a evidência científica sobre a triagem e o tratamento da depressão em diabéticos continua incompleta e está principalmente focada em sistemas europeus e norte-americanos de saúde. Instrumentos validados para a detecção da depressão em pacientes com diabetes, embora amplamente disponíveis, só se tornam eficazes e, portanto, recomendados se as vias de tratamentos subsequentes são acessíveis, o que muitas vezes não é o caso.
Por causa dos efeitos adversos conhecidos da interação entre depressão e diabetes, os objetivos do tratamento devem focar na remissão ou melhoria da depressão, bem como na melhoria do controle glicêmico como um marcador para os resultados subsequentes no diabetes. A evidência científica que avaliou o tratamento para a depressão em pacientes com diabetes tipo 1 e tipo 2 mostra que a depressão pode ser tratada com sucesso moderado com várias intervenções psicológicas e farmacológicas, que muitas vezes são executadas através de cuidados de colaboração e abordagens passo-a-passo.
A evidência para um melhor controle glicêmico no tratamento da depressão, usando inibidores seletivos da re-captação da serotonina ou abordagens psicológicas, é conflitante; apenas algumas análises mostram melhorias pequenas ou moderadas no controle glicêmico. Novas pesquisas são necessárias para avaliar o tratamento dos diferentes subtipos de depressão em pessoas com diabetes, a relação custo-eficácia dos tratamentos, o uso de recursos de saúde, a necessidade de considerar as diferenças culturais e os diferentes sistemas de cuidados de saúde e novas abordagens para o tratamento e para a prevenção.